Crónica publicada no Dinheiro Vivo
Porque será que alguém decide viver em 13 metros quadrados, onde uma casa inteira encaixa na área de um quarto? Ou é um freak, que ainda vive o sonho de ser como o Huckleberry Finn, ou então, é um falido, a quem a crise não deu alternativa.
É inconcebível para a maioria trocar, de livre vontade, o conforto de uma casa grande por um espaço exíguo onde, à noite, a cozinha se transforma em quarto. Não sabemos viver assim, fomos criados para ter uma casa, de preferência, própria e grande. E assim se dá início à mais longa relação das nossas vidas, com o banco. Grande parte do salário é, aliás, usada para sustentar a casa e o único custo está longe de ser o da mensalidade do crédito.
A verdade é que a nossa incredulidade perante tamanha revolução no estilo de vida de alguém tem a sua razão de ser. O movimento das tiny houses não nasceu com o subprime, mas cresceu muito com a crise financeira. As motivações não são exclusivamente financeiras, mas sim, os seus adeptos foram, quase todos, confrontados com a impossibilidade de continuar a pagar a hipoteca ao banco.
Ou seja, a maior parte das pessoas não passou a viver numa mini casa porque quis. Mas o mais interessante é que, apesar disso, estão longe de ser uns desgraçados, o que pode ser comprovado pela reportagem da Mariana Pinheiro.
Muitos passaram a viver em casas feitas pelas suas próprias mãos, o que confere aquele extra de história ao espaço, gastam dinheiro noutras coisas que lhes dão mais prazer, como viagens, conseguem poupar, o que antes era uma miragem, vivem sem acumular, sem desperdiçar, e todo o pedaço de casa faz sentido, tudo o que têm tem uma razão de ser.
Há uma frase que explica quase tudo : “A maior alegria de viver numa mini casa é a sensação de liberdade que advém de viver com pouco”. Pois é, a vida é cada vez mais complexa, que a ideia de que a nossa vida inteira cabe toda numa assoalhada e é facilmente gerível é mesmo muito atrativa.