Texto publicado no Dinheiro Vivo
Nota-se a falta de Vítor Gaspar.
De facto, jamais o ex-ministro das Finanças iniciaria com a troika a discussão sobre a flexibilização das metas do défice orçamental para 2014 – de 4% para 4,5% -, assim, em público, numa comissão parlamentar, antes de mais uma avaliação regular ao programa da troika, e sem antes falar com os seus interlocutores diretos.
E Paulo Portas, o novo vice-primeiro-ministro deste Governo, assim começou, em frente aos deputados da comissão parlamentar de acompanhamento às medidas do programa de assistência económica e financeira: “O Governo continua a pensar que a meta de 4,5% para o défice de 2014 é a mais adequada”, frisou Portas.
Assim, com a ministra das Finanças ao seu lado, a mesma que supostamente terá motivado, em julho, a sua demissão “irrevogável”, esta, a que abriu a crise política que fez disparar os juros da dívida pública portuguesa, a mesma que teve custos sérios na credibilidade externa de Portugal, a tal que agora é usada pelos responsáveis europeus para relembrar a importância extrema do caminho da consolidação orçamental.
Nada de surpreendente até aqui. Sim, já sabíamos que Portas e Gaspar estavam longe de ser almas gémeas. Não parecem, nem são.
A verdade é que o Governo mudou com a saída de Vítor Gaspar e a promoção de Paulo Portas, que, enquanto vice-primeiro-ministro, passou a ter a pasta das relações com a troika.
E esse facto ficou visível esta semana com o episódio à volta da meta do défice para 2014. O Governo deixou de ter uma posição de absoluta sujeição aos credores para passar a reclamar alguma flexibilização das metas do programa de ajustamento português.
A oitava e nona avaliações só arrancam dia 16, a discussão à volta da meta do défice para 2014 só agora começou, ainda falta cumprir os 5,5% de 2013, com todos os seus imponderáveis, Portas é um político nato, sequioso de protagonismo depois da irrevogável bodega que fez este verão, os credores já reagiram como qualquer bom credor – espernearam perante a flexibilização -, desconhecem-se os resultados desta táctica mais descarada de negociação de novas metas, mas há que tentar aliviar o programa, tentar conseguir agora aquilo que Gaspar nunca tentou, ou seja, reduzir a pressão sobre a economia.
Não nos queremos desviar da austeridade, do caminho da consolidação, caros credores, pretendemos apenas, desapertar ligeiramente, neste caso, meio ponto percentual, qualquer coisa como 800 milhões de euros, o garrote. Acham muito?!