O mundo anseia tanto pelo fim da crise que até os mais pessimistas começam a ceder perante alguns sinais animadores. A estabilização de alguns indicadores, as menores perdas registadas pelos bancos no primeiro trimestre do ano, ou a subida acumulada pelas bolsas, que costumam antecipar o que de bom e de mau se passa na economia, abriram caminho para o discurso dos sinais, do “já batemos no fundo” e do “ponto de inflexão”.
Nos últimos dias, a OCDE admitiu uma pausa na desaceleração em algumas das principais economias do mundo, como França, Itália, Reino Unido ou China. E na segunda-feira o presidente do Banco Central Europeu (BCE) disse que a economia mundial poderia estar prestes a despedir-se da odiosa recessão. Jean-Claude Trichet mudou de discurso na Suíça durante um encontro de presidentes dos bancos centrais das maiores economias mundiais. Podia ter falado só para a zona euro, mas não, gritou ao mundo que podemos estar num momento de viragem.
O pessimismo também cansa e parece agora dar lugar a uma atitude voluntarista. Como se depois de uma insistente mnemónica sobre a dureza da realidade, se tentasse devolver algum ânimo. “Pronto…, vai passar…”.
Mas é bom olhar para as coisas com frieza. A situação ainda é o que é. Só ontem, ficámos a saber que as vendas a retalho nos Estados Unidos voltaram a cair, que o crédito mal parado continua a aumentar em todo o lado e que, à custa disso, só os bancos espanhóis acumulam mais de 15 mil casas para vender, que os preços continuam a descer por todo o lado e que a produção industrial na União Europeia caiu 2% em Março face a Fevereiro.
A economia mundial pode estar a abrandar mais lentamente, mas a recuperação ainda nem sequer começou. E quando começar, vamos demorar a senti-la, sobretudo em Portugal. Amanhã, o INE divulga os números do desemprego referentes ao primeiro trimestre. Ainda estamos em recessão. Ainda chove.